Quando sinto uma necessidade de respirar, envolver me num ambiente de tranquilidade e sereno, vou até ao pinhal. Pé ante pé, caminho até lá e nem demoro a chegar. Raramente encontro pessoas e observo alguns animais. O pinhal não é grande mas é suficiente para sentir o abraço da natureza, um abraço que dá as boas vindas e sentimos conectados, com o mundo e com o universo. A paz está presente e fico grata por este meu refúgio. O silêncio acalma a mente e a alma e faz bem. Neste tempo de quarentena é bom ter assim um lugar, desfrutar durante um tempo uma liberdade enganadora, e não deixo de pensar nos milhões de pessoas que não têm possibilidades de estar assim em contacto com a natureza. Gosto de fazer caminhadas em contacto com a natureza, descobrir que afinal a primavera sempre veio com uma diversidade de flores e cheiros.

O que parece nem sempre é , só ilusão e idéias pré-concebidas e a verdade nem sempre aparece.

Estou no quarto mas longe de estar sozinha mesmo que o espelho reflita só a minha imagem, apesar de não estar mais ninguém neste espaço, eu não estou sozinha. Quem me acompanha é o silêncio que tenta sempre (por vezes sem sucesso), transmitir paz no meu interior. A solidão é aquela presença que nunca falta. Também os meus fantasmas gostam de aparecer, dizem olá e torturam me um pouco, vão embora e deixam cá os pensamentos malignos para eu ficar quase à beira da loucura. Os meus sonhos ficam num canto, e gritam "não te esqueças de nós, estamos aqui", sei que devia dar- lhes mais atenção. Por vezes observo a dança das energias no ar, numa de luz com a escuridão, bem e o mal, alegria e tristeza e assim dançam até eu adormecer e sonhar com o passado.

Que mania mais estranha, esta de adiar! É uma mania ridícula e parva, adiar para amanhã o que ontem já era tarde fazer. A vida transforma-se tantas vezes, nem sempre é notório mas a mudança acontece; e o tempo não passa voa! E adia-se para quê? Para as coisas não acontecerem porque já não faz sentido, já é demasiado tarde. Já ontem era tarde, e o tempo não espera nem a vida! 

Mania mais parva, adiar. Se não é um  desporto e uma modalidade, nem se entende qual é o objetivo de adiar, mas acontece. E lá adiamos a ida aquele sítio que desejamos conhecer, adiamos os jantares com amigos com a certeza que vai surgir novas oportunidades, adiamos projetos e sonhos porque acreditamos que vai haver tempo.

Só que não! E um dia vai ser tarde, demasiado tarde!

Que mania estranha que é esta de adiar! 

Preciso de lavar a minha alma mas a água não vem, não sei o que se passa, será que a fonte secou? O que terá acontecido? Que mistério! Enquanto a água não chega, as minhas emoções decidiram andar na montanha russa, ou sobem muito alto ou descem a pique. Uma diversão só visto! Continuo preocupada com a ausência da água, só falta lavar a alma e arrumar os pensamentos em gavetas. Seria boa ideia fechar algumas gavetas à chave para nunca mais as abrir. Tenho que esperar que essa água, chamada de lágrimas venha, até lá vou arrumar pensamentos e limpar energias.   

Acordar todos os dias, e pensar numa razão para sair da cama. Pensar todos os dias nas mesmas coisas, e tentar sobreviver mais um dia. Pensar que tudo vai-se resolver, mas é claro que se têm que fazer um esforço para isso acontecer. Parece sempre que estou à deriva no oceano, a tentar segurar numa tábua para não ir ao fundo. Tentar respirar mais uma vez, e arranjar forças para me libertar. Quero tanto ser livre e voar.