Guardo tudo numa caixinha até encher, quando não existe mais espaço procuro outro local para guardar as minhas emoções, angústias, tristezas e alegrias. Não partilho nada com ninguém e encontrar alguém que nos escute é difícil. Engulo as lágrimas e sufoco as gargalhadas, como se fosse crime sentir tristeza ou alegria. Falar em sonhos é desnecessário, pois desvalorizam os nossos desejos por mais pequenos e insignificantes que sejam para os outros, para nós é importante vive-los. Gostava de reciclar pensamentos sombrios e devaneios, e destralhar más energias mas guardo tudo para mim.

Esquecidas pelo tempo e pela vida, continuam num canto vítimas do pó e das teias de aranha. Presas na lembrança de um passado já longínquo e distante. São como as plantas que não são cuidadas nem regadas e as raízes secaram. São como as folhas de um livro arrancadas, impossível de descobrir o fim da história. São como casas desabitadas sem encanto e sem vida. 

Assim são as amizades apagadas no tempo e no decorrer dos dias, e a morrerem lentamente de indiferença. Esperam eternamente do retorno do convívio para voltarem a regar e cuidar da amizade; para sacudir o pó e retirar todas as teias e finalmente recordar o passado. E não esquecer de criar novas memórias para o futuro.

Foges sem olhar para trás, para ver se deixas alguém a questionar para onde vais. Não queres ver ninguém, não queres falar nem dizer o que te inquieta. Por vezes, pensas como querias não ser. És o que és, aceita. Corres com pressa e tens medo de não chegar. Não sabes aonde queres ir, simplesmente não queres ficar. A tua mente hiperativa não te deixa descansar ou planear o trilho do teu caminho. Queres fugir? Então vai e encontra o teu lugar, encontra te e volta quando sentires em paz e que este sítio também é teu.  

Eu não tenho desculpa, e não existe nenhum motivo que me absolva dos meus erros e da minha culpa. Não mereço perdão nem clemência pelos meus actos. Mereço ser castigada e punida severamente.

O que é que eu fiz de errado? Nada. E o problema é esse mesmo, eu não fiz nada para mudar as circunstâncias e a realidade. As grandes mudanças começam sempre com pequenos passos. Estou cansada de assistir à mesma peça de teatro vezes sem conta, sabendo antes o fim. 

Silêncio é a única coisa que posso dar agora. Ausência de palavras também é uma forma de comunicação. No silêncio pesado e longo, no ar sente se o desconforto que aperta o peito e lamenta se em silêncio. Tudo em silêncio. No mais profundo silêncio tudo é dito, e também fica tudo por dizer. Sempre em silêncio. Qualquer dia, as palavras perdem o sentido por não serem usadas. Qualquer dia, será necessário reaprender a falar, estimular a mente a criar conversas sem bloqueios e confusões.

Folhas em branco espalhadas pelo chão, desorganizadas e sem sentido. Uma folha em branco representa o nada, o vazio e memórias não vividas nem sentidas. Uma folha em branco também representa a esperança no futuro e mudanças a cada amanhecer. Olho para as folhas e não sei o que fazer com elas. Algumas já estão rasgadas, outras estão sujas só poucas delas ainda estão minimamente limpas. O que faço? Preencho cada simples folha com memórias que gostaria de ter, ou deposito as folhas na reciclagem? Ou queimo as folhas? 

A tua ausência dói, arde e queima é uma dor tão grande que ainda não inventaram sequer a palavra certa que a descreva. Dói saber que não estás mais aqui a criar memórias e vivências. A tua ausência dói, magoa e a vida como ela era deixou de existir! Já nada é igual tudo mudou, mesmo eu mudei. A realidade é diferente e tu não estás cá a ver. Tento relembrar o que aprendi contigo para sobreviver dia após dia.