Neste teatro da vida, somos apenas meras personagens passageiras. Eu gostava de saber representar, fingir o que não sinto. Gostava de sorrir mesmo não sentindo alegria nenhuma, gostava de inventar histórias mesmo que só existissem na minha cabeça, gostava de falar sobre coisas mesmo sem saber o seu real significado. Viver num mundo do faz de conta, onde a ilusão é a rainha dos dias e musa das noites. Viver mil vidas de mil personagens, ser eu sem ser eu. Ser quem eu quiser, como quiser e quando quiser. Esquecer o mundo por momentos, e criar uma realidade paralela com verdades escondidas pela passagem do tempo. Reagir consoante descrito no guião sem perguntas, viver ao sabor das expectativas e vontades alheias. E só no cair do pano, ser finalmente eu.  

O inevitável aconteceu! E eu sem saber, já esperava que um dia seria o dia. O meu Anjo da Guarda está de greve sem data para terminar, quer melhores condições de trabalho e reconhecimento pelo serviço prestado. Eu percebo tão bem o desespero que deve sentir, o meu Anjo queria um desafio, calhou lhe um autêntico pesadelo. Eu. Sei que não sou fácil. E é preciso uma paciência para me entender, nem eu percebo as minhas atitudes e comportamentos. As mensagens que o meu Anjo tenta transmitir, eu não ouço como devia e erro. Por isso, o meu Anjo está cansado e quer um pouco de descanso.

Imagino o meu Anjo com um cartaz a reclamar por misericórdia, para eu ter mais compaixão por Ele, porque eu dificulto o seu trabalho. Enquanto Ele não volta para as suas funções (e se voltar) de ser meu Anjo da Guarda , vou tentar ser a melhor versão de mim e deixar o meu Anjo da Guarda relaxar.