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sempresolitaria

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21
Fev22

Maria Estrela

Sempre Solitaria

A noite já ia alta e as horas passavam sem parar. No silêncio Maria Estrela chorava baixinho, com a almofada em cima da cabeça para abafar qualquer soluçar mais alto, numa dor que não ia embora por mais que pedisse. Os lençóis já encharcados de lágrimas amargas que nem aliviava o peso nem a amargura. É na inexistência de palavras que tudo é dito e sentido, e ali não tinha ninguém para a ouvir. Num breve olhar pelo telemóvel, que anunciava as 4 horas da manhã e a certeza de não haver a quem ligar. Derramou lágrimas até secar e adormeceu num sono tranquilo. 

No despertar de mais um dia, de mais uma página em branco de existência, abriu os olhos sensíveis à luz do sol, e deparou se com os cacos de uma noite terrível. Na mente, reviu tudo o que aconteceu, cair na cama enquanto os comprimidos de várias cores espalhavam se pelo chão. Frascos de garrafa que antes continham álcool, amontoados na mesinha da sala, anestesiaram por momentos a dor que agora voltava. Na mesa da cozinha, uma folha escrita a tinta azul e borratada continuava lá. Agarrou-a e leu, acendeu o isqueiro e ao ver as chamas a queimar a folha, pensou:"Porque raio escrevi uma carta de despedida, se ninguém iria lê-la?" Tomou um banho rápido, vestiu-se e saiu para o trabalho, aonde era apenas mais um número para a estatística. Em piloto automático desempenhou as suas funções, no fim do dia regressou a casa. No refúgio do lar, limpou os cacos da noite anterior e preparou um chá. O anoitocer era o momento preferido dela, ver a lua a espreitar pela janela e as estrelas a aparecerem uma por uma no céu enquanto bebia o chá. Reconfortava pensar que um dia quando partisse para outra dimensão, ninguém iria sentir falta dela. Refletiu na parvoíce que ia fazer, afinal morrer é cair no esquecimento e ela já estava morta há muito porque ninguém se lembrava dela.

 

    

20
Fev22

Noite

Sempre Solitaria

No silêncio do início da noite, em que a escuridão inunda o espaço todo e a quietude é a protagonista, as pessoas regressam a casa. Nas rotinas de final do dia, quando a lua já espreita e as estrelas tímidas surgem no céu, luzes azuis acompanham o som de grilos cantores. A presença de uma ambulância estacionada ao lado de uma casa, é sinal de que algo aconteceu a um elemento do casal morador. Vizinhos olham a casa, impotentes por nada poderem fazer para ajudar e recolhem-se cada qual para sua casa. Ninguém notou que a morte andava à solta pelas ruas desertas, de uma pequena aldeia igual a tantas outras. A manhã chegou com o sino a informar que mais uma alma viajou para a outra dimensão.

12
Fev22

Maldição

Sempre Solitaria

No horizonte o sol estava tingido de cor de laranja, e a Celeste assistia ao espetáculo antes de começar a caminhada do dia. A Celeste não gostava de fazer o mesmo percurso todos os dias, como muita gente fazia por isso decidia o caminho à medida que ia caminhando pela aldeia. 

Nesse dia, numa encruzilhada decide virar à direita, afinal as caminhadas eram sempre calmas e tranquilas  pensando que no final nada de mal ia acontecer. Pé ante pé percorreu pela beira da estrada, distraída a observar tudo, à procura de um detalhe novo. Num minuto, viu a decoração nova do exterior de uma casa, noutro minuto aparece um animal escuro. Por uns segundos, Celeste fica petrificada ao reconhecer a cadela, recordou o histórico de ataques dela e gritou em pânico com medo de ser mordida. Quando deu por si, estava deitada no chão a ser mordida. Que maldição a dela, ser atacada duas vezes pela mesma cadela! O dono da cadela lá apareceu e levou a cadela para casa, sem perguntar se ela estava bem ou se precisava de algo. Como depresssa o ataque começou, depressa acabou. Como um animal ferido, a Celeste foi para casa e tratou das feridas. Ainda em choque e a tremer, ao ver o reflexo das feridas no espelho, estava grata por os ferimentos não serem graves. No anterior ataque, as feridas foram mais superficiais do que estas. Ficou desiludida com o comportamento do dono da cadela, que não demostrou nenhuma preocupação nem empatia. Que raio de maldição a dela, que até gosta de animais!

As feridas sararam com o tempo mas desenvolveu crises de pânico e não queria estar sozinha, deixou de fazer as caminhadas. Nunca mais passou pela estrada aonde foi atacada.

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