As mãos presas pela impotência de agir, o corpo estático em choque por algo que não consegue mudar. A voz perdeu a força e ficou muda. Os olhos mesmo sem venda não querem ver ao redor, e mesmo com eles fechados sabemos exatamente o que vai acontecer e as lágrimas ficaram retidas. Os ouvidos só conseguem captar o silêncio. Realidade sem nexo. É uma outra dimensão estranha sem sentido nenhum. O coração sente tudo, mesmo partido das várias desilusões espera desesperadamente a mudança. A mente guarda tudo em gavetas mas algumas caixas estão vazias.

Ninguém se lembra da última vez em que a viram, nem do dia e nem da hora. Ela desapareceu, de um dia para o outro sem testemunhas. Simplesmente desapareceu. Encheram paredes de cartazes, pedidos de ajuda online e realizaram buscas. Usaram cães pisteiros, verificaram todas as pistas que eram falsas e até foram à bruxa! Nada dela. Nenhum sinal nem avistamento. Aonde andas Esperança que tanta falta fazes à humanidade!

Preciso de lavar a minha alma mas a água não vem, não sei o que se passa, será que a fonte secou? O que terá acontecido? Que mistério! Enquanto a água não chega, as minhas emoções decidiram andar na montanha russa, ou sobem muito alto ou descem a pique. Uma diversão só visto! Continuo preocupada com a ausência da água, só falta lavar a alma e arrumar os pensamentos em gavetas. Seria boa ideia fechar algumas gavetas à chave para nunca mais as abrir. Tenho que esperar que essa água, chamada de lágrimas venha, até lá vou arrumar pensamentos e limpar energias.   

Acordar todos os dias, e pensar numa razão para sair da cama. Pensar todos os dias nas mesmas coisas, e tentar sobreviver mais um dia. Pensar que tudo vai-se resolver, mas é claro que se têm que fazer um esforço para isso acontecer. Parece sempre que estou à deriva no oceano, a tentar segurar numa tábua para não ir ao fundo. Tentar respirar mais uma vez, e arranjar forças para me libertar. Quero tanto ser livre e voar. 

Pensamentos aleatórios e vagos passeiam pela minha mente, deixam- me cansada e aflita. Quero paz e ouvir o silêncio que é amigo e sábio. O barulho pode voltar noutra altura, talvez tardiamente mas volta e tem que voltar. Tenho saudades, nem sei bem de quê ou de quem, mas tenho saudades de tudo e de todos, de tudo e de nada. Penso no passado em demasia, nas pessoas que gostava de conhecer melhor, de me ter dado a conhecer melhor mas afastei-me. Porque é que fiz isso? Afastei me de tudo e de todos e não ganhei nada com isso, só perdi tempo e momentos! Porque é que custa pedir ajuda? Porque é que custa aceitar ajuda? 

E aquele beijo? Que era meu e nunca o recebi, assim como aquele abraço era meu por direito. Esperei tanto e nada veio, porque é que esperamos por coisas que nunca chegam? Eu sei que não sou de afectos mas sinto falta, podemos sentir faltar do que nunca tivemos? É verdade, sinto falta de beijinhos, abraços e miminhos na cara coisas que nunca estive habituada mas não sei como reagir ou sentir, se alguém me abraçar. Sim, eu sei, sou uma pessoa muito estranha que ainda não ganhou juízo!