No silêncio do início da noite, em que a escuridão inunda o espaço todo e a quietude é a protagonista, as pessoas regressam a casa. Nas rotinas de final do dia, quando a lua já espreita e as estrelas tímidas surgem no céu, luzes azuis acompanham o som de grilos cantores. A presença de uma ambulância estacionada ao lado de uma casa, é sinal de que algo aconteceu a um elemento do casal morador. Vizinhos olham a casa, impotentes por nada poderem fazer para ajudar e recolhem-se cada qual para sua casa. Ninguém notou que a morte andava à solta pelas ruas desertas, de uma pequena aldeia igual a tantas outras. A manhã chegou com o sino a informar que mais uma alma viajou para a outra dimensão.

Não atirei a toalha ao chão, simplesmente deixei-a pendurada a secar, assim não pesa tanto. Não fugi da batalha, simplesmente tirei uma pausa para respirar e recarregar energias. Não desisti, simplesmente aceitei o que posso ou não mudar. Não perdi a voz ou calei- me de vez, simplesmente quero ouvir o que o mundo tem para me dizer. Não baixei os braços, só estou a deixar que me abraçam. Não deixo o campo de batalha, só mudo o lugar. Não sou desistente, só estou a aprender a lição. Tudo é uma luta na vida, no dia-a-dia e na realidade da vida, mas a luta mais desafiante e desgastante, é aquela aonde ocorre interiormente no fundo da alma e na nossa mente. É uma batalha longa e cansativa, com avanços e recuos, com estratégias e complexos planos de retaliação ao inimigo. 

Pequenas migalhas espalhadas pelo chão, tão insignificantes e quase invisíveis ao olhar humano, permanecem estáticas e esperam ser descobertas. Ninguém entende o que as migalhas representam ou significam. As migalhas são apenas pequenas linhas do trilho a percorrer. Linhas de um mapa em constante construção, tal e qual a vida. Mensagens secretas do Universo com o objetivo de restabelecer o equilíbrio energético, tantas vezes destabilizado. Sinais escondidos em muitos locais são apenas enigmas criados pelas teias das leis cósmicas, do caminho a seguir e da decisão certa. Os sinais estão aí, nem sempre escondidos mas sempre à espera de serem lidos e interpretados. Na passagem dos dias, com a mente cheia de pensamentos e preocupações nem sempre reparamos nos sinais, e andamos perdidos num oceano imenso à procura de uma luz que nos oriente.

O espelho reflete o que se sente no fundo da alma, sem enganos nem mentiras. Verdades escritas a tinta permanente nunca serão apagadas. Nenhuma palavra contradiz o que um simples olhar transmite. As palavras mascaram muitas vezes a verdade, ditas sem sentido e emoção. Disfarçam o que sentem realmente, tentam mostrar o que não são. O olhar não muda, não engana nem se treina para dizer ou transmitir sentimentos irreais. Pelo olhar tudo é dito sem abrir a boca. Os olhos são o espelho da vida envolta em mistério e riqueza. 

A tua inocência comove-me e a tua ingenuidade quebra o meu coração. Confias com tanta facilidade e nem te dás conta da traição eminente de que és vítima. Não sentes a pairar pelo ar, uma espada pronta para rasgar a qualquer momento, uma réstia de esperança e desfazer um sonho mesmo antes de nascer. Adoro o  jeito como olhas com carinho e credulidade, acreditas em tudo sem desconfiar que num instante as coisas mudam e as pessoas se revelam.

Num momento tudo irá mudar, quando a espada rasgar a cortina da ilusão em que vives. Espero estar lá contigo, nesse instante de desgosto e descrença. O meu abraço será insuficiente para apaziguar o desalento do teu coração puro. E aí, se não conseguires chorar, eu derramo as lágrimas por ti. Se o choque aprisionou a tua voz, eu grito com raiva e dor por ti. No fim, mudas e desconfiar passa a ser o teu lema. Até lá, continua a ser inocente. 

Como pequenos tecidos de diferentes cores e padrões, unidos com linha fina branca transformados numa colcha de retalhos, assim é a vida!

Os dias são diferentes com tonalidades diversas, assim como as tiras de tecido de qualidades distintas e cores variadas.

Cada momento vivido pequeno ou grande , bom ou mau, alegre ou triste unidos é a vida a acontecer.